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Trufas e Halteres

Convido você a lembrar ou imaginar um dia em que a neblina roubou a cena. Perceba-se abrindo uma janela, ou quem sabe o vidro do carro, ou ainda aquela visibilidade mínima durante uma caminhada.

A nebulosidade limita nossa visão, restringe nossa percepção e, de imediato, aguça outros sentidos em nosso organismo vivo – que se ajusta e se adapta para nos levar adiante na estrada da vida.

Sim, todos os dias nosso cérebro utiliza uma grande quantidade de energia para cumprir essa desafiante missão de nos manter vivos, nos auxiliando inclusive a tomar decisões no viés imediato da sobrevivência…

Agora convido você a lembrar ou imaginar um momento no qual foi olhar-se no espelho e o mesmo estava embaçado. Cena comum para quem tem espelho no banheiro e vai até ele depois de um banho, por exemplo.

Conseguiu imaginar essa cena? Você diante de um espelho sem conseguir ver sua própria imagem refletida nele?!

Te pergunto: quanto tempo você conseguiria viver sem olhar sua imagem refletida num espelho?! Eu sei do risco e da variedade de respostas embutidas numa pergunta como essa, afinal de contas somos diferentes e temos relações mais “amigáveis” ou nem tanto com os espelhos – mas que tal ficarmos na média para efeitos didáticos dessa reflexão pessoal?!

Vale lembrar que na mais tenra idade, mergulhados ainda numa impotência motora e sem ter condições de participar de conversas mais elaboradas, engatinhávamos em direção a um espelho, para então experimentar ludicamente a relação com os nossos movimentos refletidos. Tudo isso acontecia numa dinâmica alternância de vermos algo no espelho (no caso éramos nós mesmos em formação!), os outros ao nosso redor e os objetos nas imediações.

Ao começarmos a assumir uma imagem através da transformação projetada no espelho, o nosso eu irrompeu numa forma primordial, antes mesmo de dialogarmos com o outro e de sabermos nossa função como sujeitos.

Anos mais tarde, já na vida adulta, podemos estar diante de um espelho embaçado, sofrendo seu efeito “desrealizante”. Essa imagem especular citada por Lacan (1901-1981) parece ser o limiar do mundo visível. É uma identificação que ocorre a partir da transformação produzida em cada um de nós quando assumimos uma imagem.

É preciso cuidado para nos situarmos de maneira saudável entre o insuficiente e o imaginário. Sim, aquilo que somos e que está contido em nossa genuína essência humana, transita num grande circuito que se retroalimenta, onde está nossa própria percepção pessoal e todas as situações socialmente vividas e experimentadas.

Vivemos tempos complexos que nos amadurecem em épocas e intensidades distintas, mas que nos expõe fortemente a perigosas padronizações e imposições estéticas por vezes nocivas.

Seja quem você é para que possamos realizar quem somos numa sociedade mais saudável e longeva. Vamos ultrapassar dicotomias, muitas vezes sem sentido e praticar a construtiva dialética dos contrários e dos complementares…

Procure sua essência! Sartre já falava da aparência no Século XX, nos convidando a pensar que esta não é irrelevante, pois a aparência que temos influencia e induz a nossa essência. Para ele, se a existência induz à essência, então a porta de entrada do essencial seria o existencial.

Floresça em sua essência através da sua existência, que transparecerá em sua aparência!

Cuide para não se fixar somente na aparência…

É de dentro para fora, mas saiba que existe uma série de inputs informacionais que nos foram imputados em nossa primeira infância e que estão disponíveis ao nosso reconhecimento, atualização e ressignificação. Seu espelho pode estar enevoado, dificultando sua própria percepção pessoal…

E quanto as trufas e halteres? Bem, isso é para mostrar como seu Script (roteiro mental) atua fortemente no cotidiano, tomando muitas decisões antes mesmo que tenhamos consciência sobre elas.

Afinal, por que você resolveu ler um artigo entitulado Trufas e Halteres?

Um abraço afetuoso…

Rony Tschoeke

Autor do Livro SCRIPT UMA OBRA INACABADA, Editora Chiado Books (2021)

Adquira o seu Exemplar diretamente no site da Livraria Atlântico (prazo mais curto para entrega):
https://www.livrariaatlantico.com.br/pd-84fb1a-script-uma-obra-inacabada-rony-tschoeke.html?ct=&p=1&s=1

4 Responses to Trufas e Halteres

  1. Elizabete Pestana

    Na vã tentativa de descobrir o que essas duas coisas têem de bom,pois não gosto de nenhuma. Afinal só descobri que o meu espelho está sempre embaciado.

  2. Nestor Soares Publio

    Li o artigo pq me identifico muito com o que vc escreve. Sucesso eterno meu garoto e continue aconselhando a todos nós, mais velhos, que necessitamos muito de ouvir e ler o que escreve para termos uma qualidade de vida melhor. DEUS TE ABENÇOE

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