Uma tentativa de descrever a Saudade

Por um instante paralisei diante do solista. Movimentos firmes numa suavidade precisa. A melodia chega a afagar meu coração. Minha respiração muda. A paisagem ali fora sincroniza-se. Até os pássaros fazem um planeio majestoso. Será que também ouviram o que eu escuto agora?! Quem sabe sentem que existe amor nas redondezas…

Para onde foram? Num piscar de olhos o trânsito parece mais acelerado, pessoas atravessam a rua apressadas… O que houve?! Ahhh sim. A música é outra…

Como pode ser tão majestosa, melódica, sentimental, transformadora… Chego a sentir cheiros, aromas, vejo sorrisos, abraços, sinto um calafrio arrepiar a minha pele. Mais um gole do chá que já se encontra mais frio, numa espécie de aviso tranquilizador de que nada é para sempre.

Assim como uma receita mistura ingredientes e forma uma saborosa comida que nos alimenta os sentidos, percebo a música fluindo numa sequência de notas que desconheço… Não preciso compreender, apenas sentir…

Sou levado a escrever, lembrar, pensar, i m a g i n a r. Minha mão não consegue parar. Minha cabeça então…

Respiro fundo, olho para longe, vou um pouco mais além. Quantos – e ninguém…

Me vejo diante de uma tentativa de descrever a Saudade.

Saudade?! Será que é isso?! Mas também pra que definir. Basta sentir…

Já já terei que ir, mas antes de partir, muito mais do que me despedir, te convido a sentir.

Sinta as pausas, os intervalos, os silêncios que gritam por atenção, os olhos que revelam a solidão. Aproxime. Afaste. Chegue, mesmo sabendo que irá – mas vá! De um jeito ou de outro, vá!

Todos somos, carecemos, merecemos, podemos.

Se a Saudade estiver por aí, deixe-a sair, sorrir, escorrer, acontecer…

Isso é viver!

Rony Tschoeke

@rony_tschoeke

Autor do Livro SCRIPT UMA OBRA INACABADA, 2021

Editora Chiado Books